Para o portuense André Parente viajar é já uma “necessidade de sobrevivência”. Começou a viajar quando ainda era pequeno, na companhia da mãe, e agora o vício converteu-se em profissão. Em 2007 realizou uma viagem de volta ao mundo, que lhe mudaría a vida por completo. Quando regressou a Portugal decidiu criar um blog, o Tempo de Viajar, para partilhar as suas experiências de viagem nos 40 países que visitou e dar conselhos aos que se preparam para lançar-se numa aventura similar. Para além do blog, também organiza expedições e workshops, deixando algum tempo livre, como não podia deixar de ser, para viajar…
Querem saber mais sobre este viciado em viagens? Leiam a nossa entrevista com André Parente:
Para começar, gostaríamos de saber um pouco mais sobre ti… Como te descreverias em poucas palavras?
É sempre difícil falar de nós próprios mas, nas palavras de amigos e pessoas mais próximas, provavelmente diriam que eu sou frontal, sincero a maioria das vezes, às vezes meio “atravessado”, companheiro e muito mau feitio!
O que significa para ti viajar?
É em viagem que eu me sinto melhor, que me consigo “encontrar” mais facilmente com as coisas que são certas para mim. Hoje em dia é quase uma necessidade de sobrevivência.
Quantos países já visitaste até ao momento?
Não tantos assim. Nesse aspecto acho que sou um viajante atípico, pois não faço muita honra em colecionar carimbos no passaporte. Pelo contrário, até gosto de regressar duas, três ou quatro vezes ao mesmo destino. Diria que conheço cerca de 30 ou 40 países.
Qual foi a viagem que mais te marcou? Porquê?
Definitivamente a viagem de volta ao mundo que fiz em 2007. Em primeiro lugar pela dimensão da própria viagem, em tempo e geograficamente. Por outro lado, porque, quase inevitavelmente, foi um momento de viragem da minha vida profissional e da forma como a passei a ver.
E recordas algum episódio dessa viagem que te tenha marcado particularmente (positiva ou negativamente)?
São tantos que até é difícil mencionar um especifico. Estar a viajar significa estar numa constante roda de episódios e emoções… por isso é que depois é muito monótono estar “em casa”. Mas recordo com algum carinho uma vez que fui convidado e fiquei alguns dias em casa de uma família Maori, na Nova Zelândia. A facilidade com que convidaram um perfeito estranho, o puseram a dormir no quarto do filho, lhe deram a chave de casa para ele entrar ou sair quando quisesse, etc , surpreenderam-me. Logo a mim que sou sempre tão desconfiado com as pessoas…
E viveste algum momento de maior tensão, em que inclusivamente tenhas pensado em regressar?
Assim de repente, lembro-me de duas ocasiões em que pensei regressar. Uma foi quando cheguei a Bali, na Indonésia pela primeira vez. Não aguentei a pressão da confusão, do trânsito, do idioma, de tudo ser tão aparentemente caótico, das ondas grandes e fundos de recife e coral. Tive que fazer um rewind, alojar-me num hotel melhorzinho durante uns dias e depois ir com calma. Voltei a Bali mais 3 vezes depois disso e, atualmente, é um dos meus destinos favoritos!
Outra foi quando fui assaltado na América Central, durante a viagem de volta ao mundo, e me levaram tudo desde o computador, máquina fotográfica etc até aos bilhetes de avião, passaporte, todo o dinheiro, cartões de crédito, etc. A reação imediata foi “acabou tudo” mas, depois, consegui manter o foco e, em vez de regressar a Portugal com um salvo-conduto que a Embaixada de Espanha me passava, decidi ficar, esperar por um novo passaporte e seguir viagem. Vivi um mês em San Jose, capital da Costa Rica, à espera do passaporte!
Quais os melhores e os piores pratos que provaste durante as tuas viagens?
Também nisso sou talvez um pouco atípico. Ou tenho a mania que sou… Nunca comi gafanhotos e essas coisas, porque simplesmente não me atrai e não vou comer só para dizer que comi. Normalmente, como a comida corrente local, em restaurantes económicos ou comida de rua. Acho a comida e a cozinha Peruana uma das melhores do mundo. Variada, saudável, fresca.
Que experiência recomendarias a qualquer viajante e qual não aconselhas a ninguém?
Acho que não tenho nada que diga que não aconselho. Eu costumo dizer que “topo tudo” desde que me apeteça na altura e as viagens são feitas de experiencias, melhores ou piores mas o que conta é a experiencia, a emoção do momento e o que ela nos ensina. Assim coisas que recomendaria pelo menos experimentar seria, por exemplo: dormir no deserto, andar em autocarros locais na América do Sul, andar de comboio na Índia, acampar em frente a praias na Nova Zelândia…
Planificas as tuas viagens com muita antecedência? E normalmente levas o itinerário completamente definido ou vais improvisando no momento?
Normalmente, planifico bastante em termos de itinerário, necessidades de vistos e cuidados de saúde (malárias, etc). Às vezes de forma mais rígida, outras mais flexível, com opções e planos Bs. Mas acabo sempre por ir a lugares que não planeei e nem sabia que existiam. Já não planeio muito os alojamentos e os transportes, pois isso vou descobrindo durante a viagem. Sei que, se vivem lá pessoas, tem que haver sitio para dormir e forma de deslocação. E, desde que me roubaram o guia Lonely Planet na Costa Rica, em 2007, nunca mais comprei ou usei um guia desse tipo. Prefiro consultar blogues pessoais de outros viajantes e fóruns de discussão para aprender com as suas dicas.
Como preferes viajar? De avião, carrro, a pé…
De autocarro. É, provavelmente, o meio de transporte mais perigoso para se viajar (em termos estatísticos) mas é o que prefiro e me sinto mais confortável. O comboio também, mas no autocarro dá para ver melhor a paisagem e a vida a passar lá fora, fala-se com mais gente, entram vendedores a tentar impingir um bálsamo milagroso qualquer, é tudo mais emocionante. Curiosamente, tenho medo de andar de avião e as viagens aéreas são sempre momentos de algum stress para mim. Há que aguentar!
Há algum objeto que te acompanhe em todas as tuas viagens?
Sim, há alguns. Tento viajar cada vez mais leve mas, actualmente, não viajo sem levar o computador e uma pequena lanterna. Dá muito jeito em diversas situações!
Fala-nos um pouco sobre a tua página web… Como surgiu? Como foi crescendo ao longo dos anos? E quanto tempo lhe dedicas atualmente?
O Tempo de Viajar foi um blogue que eu comecei quando fiz a viagem de volta ao mundo, em 2007. Na altura era um blogue “normal”, feito no Blogspot, onde ia relatando alguns episódios, escrevendo umas crónicas e pondo algumas fotos. Quando regressei da viagem, cheguei ao Porto e andei meio perdido sem saber o que fazer e alguns amigos iam-me perguntando dicas sobre alguns países quando iam de férias, que eu respondia com longos emails. Para não estar sempre com isso, pensei que faria sentido compilar toda essa informação num site onde as pessoas pudessem consultar. Não sabia nada sobre como fazer sites a sério, mas comecei a investigar. Tentativa-erro, tentativa-erro, tentativa-erro. Entretanto fui aprendendo, não só o fazer o site em si mas também como promovê-lo e tentar rentabilizá-lo com publicidade e outro tipo de parcerias. Hoje em dia, dedico cerca de 1/3 do meu tempo de trabalho ao site aos projectos que dele nasceram, como a organização de viagens, workshops, etc.
Para terminar, qual o teu próximo destino?
É altamente provável que regresse à América do Sul ainda este ano, levando um pequeno grupo ao Peru e talvez depois visitando uns amigos na Colômbia, que acabaram de abrir um Eco-Hotel e me desafiaram a ir lá dar ajuda com a página web e outros assuntos de online marketing. Do lado da Ásia, gostava de ir às Filipinas, ao Sri Lanka e explorar novamente mas com mais tempo o quadrado Tailandia-Vietnam-Myanmar-Laos. Bali é sempre um destino a regressar. Um dia gostava de fazer a costa africana de carro, do Porto a Maputo.
3 responses to ““Viajar é uma necessidade de sobrevivência” – Entrevista a André Parente, do Tempo de Viajar”