Hernani Cardoso é um exemplo de coragem! Este ano de 2013 vai empreender uma aventura que merece ser conhecida: vai viajar pelo mundo em bicicleta, visitando o legado dos descobridores portugueses.
Com partida desde o Porto, cidade natal deste viajante aventureiro e também do infante D. Henrique, passará por Lisboa, de onde partiam as caravelas portuguesas na época dos Descobrimentos e chegará até ao Brasil, viajará pelas Américas, Ásia e África até chegar ao seu ponto final: Portugal. Quanto tempo durará esta aventura? Hernani prefere não definir uma data de chegada. Porque o improviso também faz parte das suas viagens…
Em eDreams decidimos conhecer melhor este viajante solitário e o seu projecto de viagem. Aqui lhes deixamos as respostas deste aventureiro português. Boa viagem Hernani!
Como nasceu esta ideia de percorrer o mundo em bicicleta?
Desde pequeno que adorava a ideia de viajar de bicicleta (estávamos nos anos 70) e lembro-me de ir à Livraria Bertrand, no Porto, onde eles tinham umas revistas alemãs sobre o tema. Na altura eu não percebia absolutamente nada de alemão, mas contentava-me a ver as fotos e a sonhar depois, em casa, com mapas que ía arranjando. Daqui para a ideia da Volta ao Mundo foi um passo. Passando eu à reserva/reforma o que iria fazer? Sentar-me? Esperar pela morte? NÃO! Realizar o sonho de uma vida….
Qual é a sua motivação principal?
Esta iniciativa tem vários objectivos. Primeiro, demonstrar que é possível ir mais além e ter umas férias saudáveis em bicicleta, uma vez que este meio de locomoção serve para manter a saúde ao mesmo tempo que não polui o ambiente e ajuda a um maior envolvimento entre povos e culturas. Segundo, visitar os legados que os navegadores portugueses deixaram ao mundo e a outras culturas, legados esses que se encontram espalhados pelo mundo.
Qual vai ser o percurso realizado nesta volta ao mundo?
O percurso rege-se por duas variáveis: o legado português espalhado pelo mundo e a viagem mais barata entre continentes. Assim sendo basicamente a partida acontecerá em alguns pontos distintos: o Porto, onde nasci e onde nasceu o infante D. Henrique, Lisboa de onde partiam as caravelas que deram novos mundos ao mundo e Almada, a minha cidade adoptiva. De Portugal viajo para o Brasil, subo a costa até à foz do Amazonas subindo até Manaus e daí atravessando a floresta amazónica até à Venezuela, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala e México.
Daí voo para a Coreia do Sul, Japão, onde acontecerá o ponto alto desta viagem, a minha presença no Festival da Espingarda (Teppô Matsuri) em honra aos portugueses que decorre na ilha de Tanegashima. Do Japão parto para a China descendo a costa desde Xangai até Macau e daí pelo Vietnam, Laos, Cambodja, Tailândia, Malásia, com o ícono da nossa presença no Oriente: Malaca, Singapura, Indonésia e a nação irmã de Timor-Leste. Segue-se a Austrália e a Nova Zelândia, que historiadores locais atribuem as respectivas descobertas aos navegadores portugueses e não aos ingleses, como é divulgado. De Auckland (Nova Zelândia) voo para o Sri-Lanka, e subindo a costa de Kerala, na Índia, passo pela jóia da coroa portuguesa, Goa, e depois Damão e Diu.
Um voo leva-me de Diu para Omã (Muscat) e por terra para o Dubai, Qatar, Bahrain, Irão e atravessando o estreito de Ormuz de volta ao Dubai para apanhar o voo para Mombaça no Quénia, descendo a costa do Indico pela Tanzânia, Moçambique e África do Sul até ao cabo da Boa Esperança, subindo depois a costa do atlântico Sul pela Namíbia, Angola, S. Tomé, Ghana, Togo, Burkina Fasso, Mali, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Senegal, Mauritânia e Marrocos, com as praças portuguesas em destaque. Deixo África pela primeira conquista portuguesa: Ceuta e regresso a Lisboa pelo sul de Espanha.
Quanto tempo está previsto que dure esta volta ao mundo?
Esta viagem é como um “estar” no Mundo, pelo que a sua duração não é fixa, mas presumo que poderá demorar entre 3 e 4 anos.
Como organiza normalmente as suas viagens e com que antecedência?
Há viagens que organizo com 1 ou 2 meses de antecedência e outras em que simplesmente pego na bicicleta e vou….
Esta é uma viagem muito exigente fisicamente . Como se prepara para uma viagem desta dimensão?
A componente física é importante, mas o mais importante de uma viagem em bicicleta é a componente psíquica. Temos que estar mentalizados que se hoje fizemos 60km, amanhã faremos o mesmo e depois também e assim sucessivamente durante dias, semanas, meses, anos. A componente psíquica torna-se então crucial para qualquer tipo de viagem de bicicleta.
Vai viajar sozinho. Receberá algum tipo de apoio, desde Portugal ou nos países de chegada?
Sim, vou viajar sozinho, o que acontece sempre, salvo uma ou outra viagem de curta duração em Portugal, quando vou acompanhado por amigos. Nesta viagem, uma vez mais, vou contar com a entreajuda que existe no meio dos cicloturistas através do Warmshowers (www.warmshowers.org) que é uma rede social mundial do género Couchsurfing, mas especifica para cicloturistas. Quanto ao resto tenho o apoio de algumas empresas nacionais e estrangeiras. A KMX inglesa que vai fornecer uma trike reclinável (bicicleta de 3 rodas), a SUNUP taiwandesa que fornece um sistema revolucionário que vai permitir gerar energia para carregar equipamentos electrónicos enquanto pedalo, a Cenas a Pedal que dá todo o apoio a nível de material referente ao trike, o Portal Sapo que, através dos seus portais internacionais em Cabo Verde, Angola, Moçambique e Timor, além de Portugal, vai dar visibilidade à viagem com actualizações constantes, nos diversos idiomas do site oficial da viagem. O mais dispendioso serão as deslocações inter-continentais pois terão de ser efectuadas de avião, aí espero poder contar com algum apoio das empresas de aviação.
Que bagagem leva?
A bagagem é o mais básico possível. Terei uma pequena “cozinha” com fogão, tachos e lava louça que servirá também de lava roupa, alguns medicamentos, produtos de higiene pessoal, roupa e uma pequena oficina para resolver pequenas anomalias da trike.
Usa normalmente outros meios de transporte para viajar ou a bicicleta é a sua companheira fiel de viagem?
A bicicleta é o meio de transporte principal, no entanto uso outros meios como o comboio ou o avião para me deslocar até ao ponto de início da viagem e do ponto final para casa, isto porque geralmente o tempo é escasso. A titulo de exemplo quando viajei da Áustria/Alemanha até á Bulgária fui de avião de Lisboa para Salzburgo e daí pedalei até Sófia, de onde regressei de avião a Lisboa.
Que outras viagens fez anteriormente em bicicleta?
2008 – Foi a minha primeira grande viagem: Porto > Lisboa
2009 – Lisboa > Sagres > Lagos
Áustria/Alemanha > Bulgária, passando por Eslováquia, Hungria, Croácia e Sérvia
Elvas > Lisboa
2010 – Caminho de Santiago desde Lisboa a Santiago de Compostela
Diversas viagens de curta duração em Portugal
2011 – Lisboa > Fátima e mais umas viagens de curta duração
2012 – Porto > Aveiro > Viseu > Torre (Serra da Estrela) > Covilhã. Esta foi a primeira vez que uma trike subiu à Serra da Estrela.
Qual foi a melhor viagem que fez até hoje?
A viagem que mais me marcou foi a que fiz durante cerca de 40 dias entre a Áustria/Alemanha e a Bulgária. É incrível a sensação de estar sozinho em países completamente estranhos quer no seu modus vivendi como na sua língua/cultura…
Que recorda da primeira viagem que fez na vida?
A minha primeira viagem foi uma aventura. No dia que saí do Porto apanhei uma constipação, e quando cheguei à Praia da Barra (Aveiro) estava com febre. Passei a noite toda a suar, mas no dia seguinte já estava bom para continuar a viagem.
Qual é a viagem que TEM QUE fazer antes de morrer?
Muitas! Do Alasca à Terra do Fogo, da Europa ao Tibet mas estas depois da viagem de todas as viagens: A MINHA VOLTA AO MUNDO!
Aqui deixamos o nosso agradecimento a Hernani Cardoso, pela sua disponibilidade para esta entrevista e pelo envio das fotos que a ilustram. Desejamos-lhe muita sorte em todas as suas viagens!
Ah granda Hernani….vou seguir a tua viagem e adoraria estar na partida e na chegada!! De preferência desde Bissau até Lx ;o)